VOCÊ ENTENDE JOYCE?

VOCÊ ENTENDE JOYCE?
Quem ou o quê não entende James Joyce?
Esta é a pergunta a ser feita. Qual programação em nós não o entende? Quem a produziu, o quê a produziu em nós?
Só para argumentar, vamos supor, unicamente supor, minha gente, que Joyce quisesse tão somente “brincar”com aqueles que viessem a lê-lo, e que nele, Joyce, nenhum mérito houvesse, tipo as várias formas de escrever, fluxos e tais?
De fato, ele diz algo assim, não é?, que os eruditos,os críticos gastariam séculos tentando explicá-lo.
Existiria uma imperdoável premeditação nele e, para tanto, um p… ego? Deus, nos perdoe por tal pensamento!
Mas, voltemos. Quem não o entende? Quais registros neuronais, quais sinapses falham?
O fluxo de Joyce, para mim, desliza no espaço que sou, tão igualmente quanto aquele do homem iletrado que se expressa com simplicidade em um bar. Não há diferença, não poderia haver, se é um vazio que os acolhe, a ambos os fluxos.
Por que somos unânimes, usando uma forçada colocação, em dizer que não o entendemos, que ele é um escritor difícil?
Tudo se resolve na vida quando se olha do vazio,digo sempre.
Virginia Woolf lhe faz, a você, leitor, a condescendência de ser uma maravilhosa escritora e ser deleite lê-la ( falo por mim e talvez por uma legião de outros leitores).
Joyce é acre, é chumbo e,por isso, libertador.
Ousaria dizer que ele nos liberta de nossas programações. Por que cargas d’água existe um cara que escreve assim, sem dar a mínima se vão entendê-lo ou não,ou,por outra, premeditou esta… estupefação?
Tendo já ultrapassado* trezentas e tantas páginas do “Ulysses”, estou adorando.Entendo cada palavra dita ou frase composta, cada pensamento escondido e cada arrogância demonstrada. Não há em mim uma programação predisposta a entender, entende?
Lacan teria dito que o escrever teria salvo Joyce da psicose, ou do afundamento nela, algo assim; corrijam-me os entendidos.
Pode ser isso. e eu não saia inteiro desta leitura. Brincadeira. Não há o que partir, sou vacuidade. Vejam que interessante: saio do que sou, entro em um fluxo, como o de Joyce, para falar dele.Muitos mestres chamariam a isso “Iluminação”
A questão é que acabamos dando uma opinião sobre Joyce( Já viram quantos videos há no youtube sobre ele?) E são experts ( É essa a palavra?)
De onde fala essa gente toda?

*Usei a palavra “ultrapassado”. Não quis tirá-la na revisão; não teria sido honesto, eu acho. Ultrapassar parece indicar, inconscientemente, um sacrifício a ser feito.

LIN DE VARGA

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