LUIS ALFREDO GARCIA-ROZA
Não sei qual seria a explicação psicológica para isso, mas só neste ano li, já, sete romances policiais de Luis Alfredo Garcia-Roza, iniciando agora o oitavo, “Na Multidão.”
Quando terminava a faculdade de Psicologia, ia à UFRJ assistir algumas aulas de psicanálise do professor Garcia-Roza; coisa que era feita por muitos interessados, mesmo que não alunos daquela Universidade.
Nos romances,fascinam-me as histórias em torno do Inspetor/Delegado Espinosa, assim como a sua própria, com a estante de livros que se equilibram sem nenhuma estante, a torradeira que só torra de um lado, formigas que passeiam pelo apartamento,(de uma feita, pelo menos) sua paixão pelos livros e a visita aos sebos na cidade.
E o relacionamento com Irene. E o bairro Peixoto que, mesmo que não o conheçamos, torna-se um oásis de paz na turbulenta metrópole.Até no Hotel Santa Clara já pensei hospedar-me, só para me sentir lá no ambiente do Delegado.
A página do escritor, salvo erro, não é muito visitada ou mantida em dia.Mas já fui antes e vou até lá com este texto.
Para não parecer, unicamente, uma exposição egóica( O que,, de fato,é),vou lhes mostrar a beleza de uma passagem, de “Espinosa sem Saída”, romance de 2006 e que tem muito a ver comigo.
Sempre me encantou o fato de ocuparmos um espaço sobre a Terra, que,via de consequência, não pode ser habitado por mais ninguém.Nossa perspectiva do em torno, das estrelas, dos rios, das árvores, é só nossa; de outra pessoa, é também só nossa; não o fosse já psicologicamente, o é também espacialmente.
Não sei se falam sobre isso por aí, eu acho notável. Como momentum de ação pode até ser usado na terapia;mas isso já seria outro assunto.
Vejam este fragmento,pg,132 do romance citado:
” Continuou sentado na cadeira de balanço, atento ao deslocamento da faixa de sol que caminhava pelo chão da sala e que, segundo seus cálculos,alcançaria seu pé em no máximo quinze minutos – o que era um bom motivo para permanecer sentado: verificar a exatidão do cálculo. Insistiu na faixa de sol. Pensou que, naquele instante, o sol iluminava metade do planeta, abrangendo aritmeticamente metade da população do mundo, algo em torno de três bilhões de pessoas, e ele era o único habitante… mais do que isso, era o único ser atingido por aquela faixa de luz solar… ela era só dele… e não apenas naquele momento,mas para todo o sempre.E pensou ainda que, se aquilo era o que de melhor podia pensar naquele momento de plenitude, era sinal de que a espécie humana realmente não tinha dado certo. Levantou-se e foi lavar a louça do café-da-manhã.”
Esta é a minha homenagem ao Professor e ao Escritor. Se ninguém lê-la, ainda assim terá sido feita…
Lin de Varga
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