EIS QUE TRAGO O QUE SABE O NÂO MANIFESTO
O QUE SE PODE BUSCAR?
Perguntaram-me outro dia:
-Você não se aborrece nunca?
-Às vezes, me aborreço – respondi. – Mas não devia. Não existe ninguém lá.
De repente, tudo desmorona, mas não deixa nenhum escombro. Só o vazio de uma” Intimidade infinda”, nossa realidade última.
O que fez adormecer em mim a minha verdadeira natureza? O que me desviou da perfeição que contém todos os Universos e galáxias?
“Nós somos a vigilância mesma do grande vazio.”(Chao Chou.)
“Nada pode ser mais simples, eu creio. Se retornarmos nossa atenção em 180 graus, nós descobrimos o segredo último de nossa verdadeira natureza e de todos os ensinamentos”( José Le Roy”)
Esse espaço que, afinal, é também nossa própria natureza, a tudo contém. É maravilhoso o reconhecimento de que tudo nele está, a visão mesma do livro em suas mãos, cujos limites se emolduram nesse espaço, a árvore destacada contra o céu em uma colina, a água nos parâmetros do oceano; tudo, enfim. A tal fenômeno, SRI Aurobindo chama “A delícia muda.”
Por que foi dada ao homem a obrigação de sofrer? Por que lhe impingiram um pecado, se ele sequer pediu para vir à luz da Terra?
Se o SER é anterior a qualquer conceito, o que você pode me dizer? O que pode uma palavra me dizer, se ela é um conceito?
Diz Ramana: “Se a servidão é apenas um pressuposto verbal, segundo declara o Vedanta, como surgirá a questão da libertação, que depende da servidão, quando esta não existe?”
O que buscar, digo eu, já que a busca pressupõe um ponto anterior de necessidade? O paradoxo é ter-se que caminhar, quando se está na chegada, a qual, aliás, nem chegada é.
Então, o buscador é uma ilusão tão assombrosa, ilusão esta absolutamente óbvia, que surpreende esse caminhar para uma “Iluminação” fictícia.
Os buscadores nunca encontrarão. Não há como se achar o lugar em que desde sempre se está.
Todavia, algum alento surge, às vezes: ”O verdadeiro guru, o dissipador de escuridão, não quer ou precisa “penduricalhos”, ele libera a essência da ilusão de se ser um “buscador” ou da prisão do “Eu”, rapidamente, com o mínimo de dor possível.” Palavras de Gilbert Schultz.
Palavras, entretanto. As que eu uso, as que usamos todos. Elas não podem explicar o novembro em Paris, mas, com certeza, de algum modo, o provocaram.
LIN DE VARGA