Meditação: um mergulho no sentimento oceânico
A palavra meditação suscita vários significados tais como: “pensar sobre”, “concentração”, “contemplação”, etc. No entanto tais significados são estranhos à sua origem. É muito difícil encontrar a significação precisa da palavra “meditação” pois no Ocidente não possuímos uma cultura que consubstancie essa compreensão.
A palavra meditação vem do sânscrito “Dhyan”, palavra que não tem uma tradução direta no português, mas cujo significado na cultura oriental expressa um estado meditativo de consciência. A cultura oriental se dedicou ao estudo e a experimentação de certos estados de consciência que não são nomeados na cultura ocidental. Várias palavras vindas da cultura oriental não encontram uma tradução adequada no ocidente, como por exemplo: “Samadhi” (“vislumbre” de uma consciência expandida que vem e se estabelece na personalidade) e “Satori” (“vislumbre” que vem e não se estabelece). Já a palavra “Dhyan” quer expressar a meditação como um estado de consciência, um estado completamente diferente, não experimentado no Ocidente, ou ao menos negligenciado ou interpretado de uma outra forma.
Muitas pessoas acreditam que meditar é dominar e praticar determinadas técnicas meditativas, como por exemplo: observar sensações corporais, pensamentos, emoções, respirações, sem se envolver ou julgar, assim como repetir mantras, trabalhar visualizações e imagens, etc. Mas será que a meditação consiste apenas na prática de uma técnica? Ao praticarmos determinada técnica, estaremos meditando ou alcançando um estado de meditação?
Em contrapartida, outras pessoas dizem que a meditação não tem nada a ver com nenhuma repetição de mantra ou com qualquer outra prática. Afirmam que a meditação é pura percepção, pura compreensão não-intelectual. Então naturalmente surge a pergunta: “Você acha que já usufrui dessa pura percepção? Você já possui esta compreensão não-intelectual?”
Bem, se deixarmos um pouco de lado os mistérios da meditação, já podemos ficar gratificados com os efeitos que as técnicas meditativas podem trazer: prazer, auto-estima, amor-próprio, vitalidade, etc. As técnicas de meditação, em várias formas, têm sido adotadas por um número crescente de especialistas como coadjuvante dos tratamentos alopáticos: “Desde a pesquisa inicial do fisiologista Robert K. Wallace e do cardiologista Herbert Benson publicada na revista Scientific American em 1972, têm sido comprovados os efeitos fisiológicos da meditação, entre eles relaxamento muscular profundo, diminuição dos ritmos cardíaco e respiratório, diminuição da pressão arterial, aumento da resistência da pele, (…), aumento da atividade de áreas cerebrais ligadas a emoções prazerosas, aumento de anticorpos. (…) Tinham razão os médicos que, interessados nas tradições do Oriente, passaram a incorporar à sua prática clínica alguns recursos das medicinas indiana e chinesa. A meditação, pelo que as experiências científicas vêm demonstrando, neutraliza o estresse e (… ) facilita os recursos naturais de cura.” (do artigo “Meditação: Novas Comprovações do seu valor”, por Dr. Roberto Azambuja, em http://www.dermatologia.net/neo/base/psiquismo/meditacao.htm).
Mas, por outro lado, não seria sensato negligenciar o fato de que existe muito mais a nossa espera. Simplesmente praticar uma técnica de meditação não significa que você esteja em um estado meditativo ou que irá alcançá-lo em algum momento através desta técnica.
Se este estado meditativo, esse “Dhyan”, é um estado de consciência e este estado é uma condição inata, como podemos praticar um “estado de ser”? Simplesmente não podemos praticar algo da nossa natureza mais íntima, que já existe e que já trouxemos conosco desde que nascemos. Então o que fazer?
É sabido que o bebê experimenta na fase intra-uterina e nos primeiros meses de vida inúmeros períodos do sono REM (“Rapid Eye Movements” / Movimento rápido dos olhos), no qual ocorrem os sonhos mais vívidos. “O sono REM e o ritmo Alfa (transição entre a vigília e o sono) provavelmente constituem a base do que se denomina sentimento oceânico, ou sentimento nirvânico, que é um estado de plena e total experiência prazerosa através de um mergulho instrospectivo que se assemelha ao estado intra-uterino. No adulto o retorno periódico a estes estados permitiria portanto a recomposição desse objeto interno bom, do nascisismo primário (base da auto-estima, do amor próprio) e a regulação das funções fisiológicas vitais.” (do artigo “Fases do Desenvolvimento Libidinal”, pelo psicoterapeuta reichiano Ernani Eduardo Trotta).
À medida que crescemos e atravessamos as múltiplas e singulares fases do crescimento, vamos perdendo a lembrança e o contato com essas experiências nirvânicas. Ao mesmo tempo passamos a focar a nossa atenção nos objetos e nos conectamos mais com o mundo exterior. Trazemos uma certa nostalgia desses estados e procuramos, durante as nossas vidas, resgatá-los de uma forma consciente ou inconsciente.
Apoiado nas minhas próprias experiências, acredito que as técnicas meditativas, as técnicas terapêuticas e as massagens profundas, como a Yoga Massagem Ayurvédica, podem proporcionar verdadeiros “insights” e vislumbres destes estados expansivos da consciência.
No meu modo de ver, não devemos nunca cessar os nossos esforços em direção as técnicas meditativas e terapêuticas, mesmo sabendo que elas não consistem na meditação em si (“Dhyan”), porque de alguma forma estes esforços podem ajudar a preencher as misteriosas lacunas entre o ser e o vir-a-ser.
A meditação é uma espécie de reencontro existencial ainda mais profundo com os estados expansivos da consciência, só que agora, não mais como um bebê, inconsciente da sua bem-aventurança, mas como seres humanos adultos, maduros e conscientes.
E não precisamos ir muito longe para obter este reencontro… O bebê dentro de nós experimentou, sabe e conhece algo da “experiência Dhyan”. E este bebê, de algum modo anseia, por esse reencontro com a verdadeira meditação: um mergulho no sentimento oceânico, um retorno ao paraíso perdido, mas agora de uma forma consciente.
OJAS, Swami Dhyan
Terapeuta de Yoga Massagem Ayurvédica, instrutor de Meditação, psicoterapeuta em Bioenergética
Coordenador do ESPAÇO VIGOR ( corpo-terapia-meditação ).