Entrevistada: Maria Helena Ennes de Almeida (Psicanalista)
1- Você já foi analisada ?
Sim. Já fui analisada em três longos períodos de minha vida, e por três grandes analistas de escolas diferentes. Inicialmente, fiz análise com um Klainiano, o Dr. Eugênio Davidovich, que me deu condições para perceber que as escolhas são nossas e que o caminho da “vitimação”, do qual grande parte das mulheres se queixam, são escolhas, na verdade, da própria mulher. Depois, escolhi fazer um outro tipo de analise, dessa vez winnicottiana , com o Dr. Fernando Coutinho, isto porque queria ir mais a fundo na minha relação com minha mãe, ou seja, o conceito teórico que define esta linha de pensamento é o de sustentação, ou holding, termo cunhado por Winnicott para descrever a conduta emocional da mãe a respeito de seu filho. O último analista, foi o Dr. Francisco Ramos Faria, com quem pude compreender que o sujeito psicológico nasce ao ser incluído na ordem do significante e na lei do pai, reconhecendo a castração. A análise lacaniana aborda a questão do desejo, combinando o discurso psicanalítico com o lingüístico, ao afirmar que o inconsciente é estruturado pela linguagem. Hoje, já não faço mais análise, entretanto faço supervisão de alguns casos clínicos, com outro psicanalista, bem como dou supervisão a alguns colegas que me procuram.
2- De que forma isso influenciou sua vida (ou influencia)?
De uma forma direta e fundamental, pois hoje sou analista.
3- Fale de você:
O que eu sou? É a pergunta que todos nós fazemos. De imediato, a partir de Descartes, temos, para responder a esta pergunta, que descartar os sentidos. O que vejo, o que sinto, não me diz o que sou, nem tão pouco me define. Sou mulher, mãe e avó. Sou também um ser desejante, desejo este que me levou a tornar-me psicanalista. O desejo do analista, diferentemente do desejo inconsciente, é um desejo para além da fantasia e não se sustenta em nada: é o lugar do vazio que o analista oferece ao analisante, para que aí possa surgir o desejo do outro. Dividir meu tempo entre o desejo do meu inconsciente, enquanto mulher, e o desejo da analista, que me autorizei, é o que faço.
4- Você diria que a analise foi uma pesquisa fundamental para sua vida?
Como já afirmei, analise não só influenciou a minha vida, como tornou-se peça fundamental. O meu percurso em analise, ensinou-me que o amor dirigido ao saber é o suporte do tratamento psicanalítico.
5- Havia alguma coisa não realizada e que você alcançou depois, ou em virtude da analise?
Sempre haverá em cada um de nós, algo não realizado ou não alcançado. A nós, resta seguir buscando, pois se antes da analise, o recalque determina “horror de saber”, o final da analise faz emergir o “desejo de saber”, que é o nome mais apropriado para o desejo do analista. Isto é o que posso dizer.
6- Como anda sua cabeça atualmente?
Gostaria de dizer que “ela vai bem, obrigada”. Entretanto, a presença e a importância do olhar, na subjetividade e na sociedade atual, causa preocupação. O imperativo do espetáculo comandado pela TV e pela publicidade, impulsiona o exibicionismo do sujeito, levando-o a fazer tudo para conquistar um lugar ao sol e isso provoca em todos um “mal estar”. A vida transformada em entretenimento, satisfazendo ao gozo escópico. O “vejo logo existo” da sociedade contemporânea, faz cada um de nós sentir-se vigiado e a vigiar o outro. O que temos hoje, infelizmente, é uma paranóia de massa.
Currículo
Maria Helena Ennes de Almeida (Psicanalista)
– Diplomada em psicologia pela Faculdade de Biologia e Psicologia Maria Theresa, com Pós-Graduação em Psicologia clínica pela PUC – RJ;
– Mestrado em Psicologia clínica pela Universidade Estácio de Sá;
– Cursos de especialização em Winnicott, Terapia de família, bem como em Psicoterapia breve;
– Participante em formações clínicas do Campo Lacaniano, bem como do Fórum do Rio de Janeiro.
Publicada Originalmente no Jornal PRANA do Rio de Janeiro, em Dezembro de 2004